Um artigo escrito pelo
sócio-diretor da Além das Palavras, Fábio Risério foi publicado na edição de
abril da Revista da Reputação. O artigo tem como pano de fundo a seguinte
provocação: Como é que a cultura da integridade e sustentabilidade pode se
tornar efetivamente um diferencial competitivo ao mesmo tempo em que viabiliza
soluções criativas aos desafios econômicos, sociais e ambientais na minha
organização diante da pandemia do coronavírus?
O link da Revista da Reputação é
o https://www.revistadareputacao.com.br
e o artigo do Fábio segue descrito abaixo:
As organizações estão diante do
desafio de se prepararem para o futuro pós-pandemia e até mesmo influenciá-lo.
E acreditamos que as empresas que terão mais sucesso serão aquelas que tiverem
em seus negócios a cultura da integridade e da sustentabilidade como
norteadores para os caminhos que serão trilhados.
O negócio de valor compartilhado
e a cultura de integridade e sustentabilidade estão intimamente ligados. Mas
não é qualquer tipo de relação que dará os resultados desejados. A necessidade
está em criar conexões, em ligar iniciativas soltas, em assumir que a
interdependência é um dado de realidade. Se alguém tinha dúvidas em relação à
interdependência no mundo, a pandemia de coronavírus deixou tudo às claras.
Como viabilizar, então, que uma equipe de
facilitadores de integridade e sustentabilidade em uma organização consiga, a
partir de suas interações com áreas internas, motivá-las a conceber soluções
significativas para o desenvolvimento de uma cultura corporativa baseada em
integridade e sustentabilidade?
Hoje várias organizações devem estar se
perguntando: Como é que a cultura da integridade e sustentabilidade pode se
tornar efetivamente um diferencial competitivo ao mesmo tempo em que viabiliza
soluções criativas aos desafios econômicos, sociais e ambientais na minha
organização? Ou, em palavras mais simples, como é possível criar algo nos
moldes de um negócio de valor compartilhado?
Ao analisarmos um negócio de
valor compartilhado, vemos claramente que o negócio em si é lucrativo e ético,
os produtos e serviços oferecidos agregam valor a quem os adquire e, além de
tudo, resolvem questões críticas de sustentabilidade. Mas para isso, tiveram de
rever paradigmas. Um exemplo desta abordagem se dá nos negócios de
microcrédito, em que o modelo de concessão de crédito adquire uma lógica de
modelagem de risco e retorno diferente da adotada pelo mercado de crédito
tradicional. Foi, portanto, a partir de diversos problemas econômicos,
ambientais e sociais que a solução do microcrédito foi criada. partindo deste
exemplo, fica claro que a primeira questão a ser colocada para reflexão deveria
tomar por base o tema central do negócio e onde é possível que ele atue para
gerar resultados éticos e sustentáveis. Quais são aspectos que estão em seu
entorno que contribuem para a insustentabilidade ética, econômica, social e
ambiental? Como é possível interferir para tornar a realidade mais sustentável?
Em um negócio de valor compartilhado, como é o
caso do microcrédito, o tema central foi o crédito e as questões ao redor desse
eixo eram: altas taxas de juros, inacessibilidade do crédito a pessoas sem
histórico ou capacidade de pagamento, pobreza, pessoas sendo vitimas de
práticas antiéticas, sendo exploradas por agiotas, diversos pequenos negócios
que se provavam eficientes e rentáveis desde que com capital de giro acessível
e barato. Pronto, bastou um pouco de criatividade e coragem para se desenhar a
solução. Mas aí vem outra pergunta: entender o eixo central temático e as
questões de insustentabilidade em seu entorno não é difícil, mas como fazemos
para ligar as pontas, romper paradigmas e vender internamente em nossa empresa
a cultura da integridade e sustentabilidade?
Vamos por partes:
Como ligar iniciativas soltas –
Uma coisa é ter informações acerca dos problemas a serem endereçados para
solução, outra coisa é senti-los na alma, criar internamente um sentido de
urgência em achar uma solução, sentir a responsabilidade por ter de fazer
alguma coisa em relação àquilo, indignar-se com nossa incapacidade de não
encontrar respostas simples para sistemas complexos. Ou seja, não basta entrar
no Google e pesquisar. É preciso entrar na realidade e sentir. Se o tema de
insustentabilidade que está tentando tratar é educação, visite os diversos
sistemas educacionais para ricos e pobres, para os que têm a melhor escola e
para os que não as têm. Sinceramente, não acredito em negócios de valor
compartilhado sem o conhecimento de realidades. Daí para frente, ou seja,
sentindo tanto quando sabendo, as conexões entre as pontas soltas surgirão,
desde que se tenha efetivamente internalizado, dormido e se indignado com o
problema e se tenha a plena consciência de que temos criatividade o suficiente
para criar qualquer solução. É preciso acreditar nisso.
Romper dogmas nas organizações –
Este talvez seja o passo que exija mais. Porque quando estamos em uma
organização, estamos imersos em dogmas. Valoriza-se mais o risco do que a
oportunidade. Vislumbramos mais facilmente as barreiras do que os trampolins.
Então é importante tentar esquecer as amarras. Tente se imaginar, por exemplo,
trabalhando em um banco e propondo uma ideia como o microcrédito antes de
existir o Grameen Bank. Impossível, muitos diriam. Pois é, só que alguém foi lá
e fez. Portanto, seja um pouco desinformado, seja um pouco ingênuo, seja um
pouco otimista e se dê a chance de pensar no impensável. Não estou me referindo
a fazer aquelas extensas e improdutivas sessões de brainstorming onde surgem
chutes sem nexos. Ao contrário, pense em alternativas que façam sentido, onde
as pontas se ligam, porém sem se preocupar com os dogmas que a sua organização
possa ter.
Vender internamente – Ideias
fracas são diferentes de ideias arrojadas. Nenhuma proposta fraca de
argumentação se vende. Portanto, estou falando de ideias arrojadas e que devem
respeitar a lógica de um negócio, ou seja, combinar risco, retorno e arrojo.
Quanto mais arrojada, maior a necessidade de se propor projeto-pilotos, de
começar pequeno, mas crescer de forma consistente. A melhor maneira de vender é
colocando o verbo no gerúndio, ou seja, “vendendo”. Isto significa dizer que
devemos conquistar os formadores de opinião um a um, conquistar aliados
importantes, respeitar a lógica natural do negócio e propor a implantação em
ondas, uma de cada vez. Nada de radicalismo. Não há líderes arrojados em
excesso. Pelo contrário, eles são raros. Aposte que, na média, você lidará com
pessoas conservadoras e, como consequência, os passos devem ser dados um de
cada vez e a conquista será considera um processo.